ENTREVISTA COM SPACEGHOST

Foi anunciada a volta da In-House League Brasil (IHBR), mais uma vez sob a direção de spacegh0st, jogador conhecido do cenário nacional de DotA.

As In-House Leagues são o supra-sumo para os jogadores de DotA: reúnem apenas jogadores de alto nível para jogos competitivos. Elas consistem de uma idéia simples: um canal de mIRC no qual ingressam apenas jogadores aprovados; seja por renome, skill comprovada in-game, skill comprovada por replays ou vouch; com um bot que ajuda a organizar os jogos e mantém um registro dos mesmos.

A IHBR já tinha ido ao ar uma vez, também sob a direção do spacegh0st, mas acabou por diversos motivos. Porém, com a evolução do cenário nacional e mais experiência, os admins acharam uma boa idéia recolocá-la no ar.

A IHBR conta com uma extensa de lista de jogadores conhecidos com vouch garantido, mas, se você acha que tem nível para ingressar na liga e não está na lista, é necessário se cadastrar no fórum da IHBR e comprovar sua skill para obter o vouch de algum admin. Vouching é uma espécie de apadrinhamento, quando você obtém o vouch de alguma pessoa que possa dá-lo, você pode jogar na liga. Se, por qualquer motivo, você ficar sem vouch, não pode jogar na liga.

Vendo o crescente interesse da comunidade sobre DotA, e também para prestar alguns esclarecimentos sobre a IHBR, a ESBR entrevistou spacegh0st:


ESBR: Tranqüilo space? Fale um pouco sobre você, seu nome, sua ocupação, sua idade...

spacegh0st: Tranqüilo... Valeu pela entrevista antes de mais nada. Me chamo Luiz Gustavo, conhecido também como ·spacegh0st·. Tô no 1º período de Ciências da Computação (na federal de Uberlândia), fiz 18 anos em fevereiro. Fora isso, sou um vagabundo que joga DotA quando tem tempo.

ESBR: Conte-nos um pouco de sua história no DotA.

spacegh0st: Comecei a jogar na 6.03 ou .04, não lembro direito, na Euronet (server pirata de W3). Tinha acabado de botar ADSL aqui em casa e fui caçar um jogo online, daí instalei Warcraft 3. Só tinha DotA nos custom games, então comecei a jogar. Uns 6 ou 7 meses pubando (mas era pouco tempo por dia) e eu conheci a galera do clan LoW (famoso na Euro), e comecei a jogar bastante com eles,até entrar no clã. Comecei a jogar uns CFs (clan wars), que a gente sempre ganhava na Euro (exceto do famoso clan RL, vencedor da LND 2). Comecei a ver replays de jogos da CAL (6.27b), treinar mais, discutir estratégias com os caras do LoW e chegamos na semi-final da LND 2. Depois disso eu saí do LoW e fui pro Beco/Solle, fiz vários amigos lá, com os quais converso até hoje. Éramos um dos clãs top também, atrás do DeN e do HoS. Nessa época eu abri a 1ª IHBR, e fundei o clã 2ez junto com o gabe. O clã era basicamente membros do HoS, eu e Gabe (que hoje tá no DeN). A gente costumava treinar bastante com o DeN (atualmente o melhor clã do Brasil disparado, ganhou LND, Hive, e é conhecido internacionalmente) e até ganhamos vários jogos/treinos, porém, conflitos internos, desistência de alguns players e uma enorme surra que tomamos do DeN no MYM prime defending #4 acabou com o nosso clã. Hoje tô no clã XiS (com ThiefSlayer, c0mitti e PedroX, todos ex-LoW), disputando a LND.

ESBR: Quais são suas perspectivas sobre DotA como jogo competitivo e por que você acha que ele ingressa muito lentamente nos grandes eventos off-line?

spacegh0st: Internacionalmente falando, minhas perspectivas sobre o DotA são as melhores possíveis. São realizados campeonatos atrás de campeonatos (exemplo: MYM Prime Defending, ESL), e há uma enorme quantidade de players e clãs bons competindo, o nível do jogo só aumenta e os patrocinadores estão cada vez mais interessados na realização de eventos. Já o DotA nacional tem poucos clãs bons, poucos campeonatos on-line bem estruturados (na verdade somente um, a Liga Nacional de DotA - LND), e pouquíssimo (ou quase zero) reconhecimento como um E-sport competitivo por parte dos grandes patrocinadores. Temos, é claro, um grande número de eventos off-line realizados em Lan Houses com prêmios pequenos, afinal o jogo é de acesso à todos e tem um público bom, mas eventos grandes de DotA são raros. Tivemos a Liga Hive, que merece destaque por ter sido muitíssimo bem organizada e ter dado ótimos prêmios, e alguns campeonatos em lans com prêmios bons, mas no geral estamos longe de ter o destaque do CS em eventos off-line, por exemplo. Isso ocorre porque, além de DotA ser relativamente novo, passa por constantes alterações (versões atrás de versões) e não possui uma base significativa de jogadores realmente interessados em elevar o jogo ao nível competitivo. Isso é triste pra quem quer ver DotA em grandes eventos, mas é a realidade.

ESBR: Você acha que os jogadores de DotA em geral não se interessam pelo nível competitivo do jogo?

spacegh0st: Acho. Em geral, só jogam DotA por diversão e têm mente fechada sobre clãs, CFs e campeonatos. Sem contar que boa parte da comunidade interessada no nível competitivo é realmente badmanner e desorganizada, e isso atrapalha muito.

ESBR: Sobre o DotA brasileiro agora, você acha que a hegemonia do DeN vai durar muito tempo?

spacegh0st: Sinceramente, não sei. Conheço todos (ou quase todos) integrantes há algum tempo e vejo que vários deles estão parando de jogar. Espero que os remanescentes continuem com o time, chamem mais players se necessário, e se mantenham no topo do DotA Brasileiro, buscando também reconhecimento internacional.

ESBR: O reconhecimento internacional do DeN vem crescendo bastante, prova disso é o fato de eles estarem na divisão profissional da CEGL. Você acha que eles estão representando bem o país ou esperava mais deles? E o que você acha da representação internacional do Brasil, de maneira geral?

spacegh0st: Eles tão fazendo o possível. Ainda há problemas como delay ao jogar em hosts estrangeiros, e também temos que encarar o fato de que os jogadores estrangeiros top freqüentam a IHCS (a maior In-House League de DotA do mundo), e lá adquirem skills, noções de tática e teamplay que nós brasileiros estamos longe de adquirir (só copiamos de replays de jogos). Alguns jogadores do DeN (a maioria) jogam na IHCS, mas pelo que sei está faltando tempo para treinos e coisas assim. Então eu acho que, nessas condições, o DeN está fazendo um bom trabalho. Já a representação internacional dos BRs de maneira geral é fraquíssima, seja por motivos de lag ou por falta de skill e competência mesmo, nós nunca ganhamos nada em grandes campeonatos e não chegamos nem perto ainda.

ESBR: Como surgiu a idéia da IHBR?

spacegh0st: Primeiro, conheci a IHL americana (na Azeroth). Foi um custo entrar lá, já que eu era brasileiro e desconhecido. Até que um dia eu consegui e gostei muito do sistema deles, embora fosse horrível jogar lá por causa do delay. Lá jogavam praticamente todos os jogadores bons dos EUA, inclusive os do coL, tPD e Verge. Então surgiu a IHCS (In-House League européia), ela era jogada na Battle.net também, mas deu um passo enorme à frente da IHL americana quando decidiu se mudar pro IRC e seus jogos passaram a acontecer no GG-Client (plataforma alternativa). Todos os bons players da IHL mudaram pra IHCS, e eu tentei ir atrás. Consegui entrar e achei absurdamente bom jogar lá. Mas ainda enfrentava pequenos problemas de delay e não conhecia ninguém. Daí quis fazer a IHBR, pros players brasileiros. Eu já sabia programar em IRC scripting, juntei uma galera (lê-se: DeN.Ganso) interessada em ajudar. Eu programei o BOT que controla tudo e Ganso ajudou a administrar a liga, fez a divulgação, muitos cadastros e etc. Foi realmente um sucesso enquanto durou.

ESBR: Mas por que acabou, se foi um sucesso?

spacegh0st: Primeiro que a época da abertura foi a melhor possível: 1º de janeiro. Todo mundo de férias, todo mundo jogando DotA, todo mundo animado com a idéia. Os 30 primeiros dias tinham média de 12 jogos diários, tínhamos uns 160 players cadastrados. Ela acabou porque foram acabando as férias, vários players foram saindo (por exemplo, o jNg.Levin era nosso user mais ativo, sempre movimentava a IHBR, mas faz medicina e teve que parar de jogar em fevereiro, sumiu do mapa), entre outras razões, como brigas intermináveis entre alguns players que já estavam cansando os admins, a valorização que era dada no ranking (vi pessoas AMIGAS caindo no xingamento por causa de Exp), e isso desanimava demais. Junto com isso eu fiquei sem tempo pois era época de vestibular e eu tinha mais o que fazer, daí foi hora de terminar. Detalhe que um pouco antes de terminar, tentamos chamar mais players, de nível bem mais baixo inclusive, mas isso acabou espantando todos os players bons da liga e não havia mais sentido continuar.

ESBR: Essa supervalorização do ranking teve até uma premiação que não foi dada ao 1º colocado por causa de uma parceria quebrada com a HangarNet. O que aconteceu? E essa supervalorização da experiência nao pode atrapalhar a nova IHBR?

spacegh0st: A história da Hangar foi bem engraçada. Um belo dia, o player kz- resolve nos propor uma parceria, ofereceu um espaço no fórum da HangarNet, um servidor de TeamSpeak e prêmios pros primeiros colocados. O problema é que o fórum ficou um lixo, jamais o TeamSpeak ouviu nossa voz e os prêmios não tinham nada a ver com DotA (eram cds do jogo Caesar alguma coisa). Daí rompemos com essa parceria. Sobre a supervalorização de pontos de Exp e ranking, pretendemos ser bem severos quanto a isso, e estamos tentando pregar desde o início que ranking não é importante, o importante é jogar pra se divertir e evoluir na IHBR. Se notarmos que alguém está exagerando nas atitudes por causa disso, vamos tirar Exp do indivíduo e cutucar bem na ferida.

ESBR: Os jogadores menos conhecidos da IHBR reclamavam de panelinha dos conhecidos, vista grossa quanto à atitudes badmanner de alguns admins e conhecidos, como você encara essas críticas?

spacegh0st: Isso é bem comum de acontecer mesmo. Em todos lugares, e principalmente num lugar como a IHBR, você deve conquistar seu espaço, se mostrar confiável in-game e ter respeito, pra aí ser respeitado e merecer confiança. O problema é que muitos players pouco conhecidos eram aprovados e, na hora de jogos que tinham opção de ter capitães, eles eram deixados de fora, e rolava a maior choradeira por conta disso. Fazer o quê? Prove que é bom (nem todos jogos possuem a opção de capitães, há jogos em que só importa a ordem de chegada dos players), jogue direitinho, fique amigo da galera e seja chamado nos outros jogos. Pode parecer difícil, mas é bem fácil quando você tem skill e boas maneiras. Posso citar vários casos de desconhecidos que eram sempre escolhidos pelos capitães, pois se tornaram conhecidos e amigos da galera depois. Chorar por ficar de fora de alguns jogos é, no mínimo, estúpido. Sobre a vista grossa, ela existiu um pouco mesmo, mas, na verdade, tudo era bem pensado. Por exemplo, o maior causador de confusão da IHBR foi o player Gabe, mas não fazia sentido kickar ele da liga quando estávamos precisando de movimento e de mais jogos acontecendo, já que ele sempre animava os jogos e chamava todo mundo. A maioria dessas críticas não têm muito fundamento, muitos se sentem injustiçados e saem logo difamando e criticando a IHBR por onde passam. O pior é que isso desmotiva quem nunca jogou lá e nunca tirou suas próprias conclusões. O sucesso da IHBR durou um tempo legal, mas as pessoas só gostam de falar sobre as coisas ruins que aconteceram por lá, só porque elas foram parte dessas coisas ruins, e em 100% das vezes, nos deram motivos pra ser.

ESBR: Quem está ajudando você na organização da nova IHBR? E quem irá aceitar ou recusar os novos cadastros?

spacegh0st: Por enquanto, o Analyser e o Ganso. Não sei falar se vamos precisar de mais organizadores ainda. A parte de novos cadastros está por conta do Analyser, e eu e Ganso estamos cadastrando os players antigos e conhecidos.

ESBR: O que será diferente nessa IHBR da anterior?

spacegh0st: Nosso fórum agora é no dotabrasil, o bot conta com mais recursos, nossos critérios de avaliação de players estão diferentes, e estamos pregando, dessa vez, mais diversão e menos brigas por ranking. Além disso, a LND está chegando no final e temos vários jogadores se interessando mais e mais pelo DotA competitivo, então estamos esperando também um número maior de cadastros. Talvez seja otimismo demais, mas se não der certo, não ligo, pois o que posso fazer pelo DotA brasileiro, estou fazendo, e se ele não estiver pronto pra isso ainda, quem sabe daqui há alguns anos a gente tenta de novo.

ESBR: Ok, obrigado pela entrevista e boa sorte com a nova IHBR. Parabéns pela iniciativa e pela dedicação.

spacegh0st: Bom, eu que agradeço pelo espaço, foi um prazer ceder essa entrevista, gostei das perguntas e tudo mais. Ah, e queria só deixar como mensagem final o seguinte: se você se interessa em DotA de verdade, procure pelo menos se informar sobre a IHBR. O melhor do DotA brasileiro está lá, e se você discorda, apareça pra nos provar o contrário. Abraços ;D



TA AE GALERA UMA BOA ENTREVISTA PRA VCS CURTIREM

FONTE: FORUMDOTABRASIL.